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    Devia Morrer-se de Outra Maneira - José Gomes Ferreira

    ptOctober 28, 2011
    What was the main topic of the podcast episode?
    Summarise the key points discussed in the episode?
    Were there any notable quotes or insights from the speakers?
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    About this Episode

    Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio". E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir a despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. "Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes... (primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos...) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen... como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis... ________ Dito por: José Paulo Santos http://www.facebook.com/jprsantos

    Recent Episodes from Interact podcast

    Dois Poemas de Alice Vieira

    Dois Poemas de Alice Vieira
    Aquele que o meu coração ama não encontra em lado algum o incenso que de meus olhos rompe para ensinar a prender o corpo das mulheres abandonadas fora de horas às portas da cidade mas sabe que para todas as distâncias há uma ave enlouquecendo quem parte do tempo e a túnica que dispo entre os seus dedos é a espada que os reis ungiram para enfrentar a ameaça das manhãs em que tudo acorda **************** Sempre amei por palavras muito mais do que devia são um perigo as palavras quando as soltamos já não há regresso possível ninguém pode não dizer o que já disse apenas esquecer e o esquecimento acredita é a mais lenta das feridas mortais espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo e vai cortando a pele como se um barco nos atravessasse de madrugada e de repente acordamos um dia desprevenidos e completamente indefesos um perigo as palavras mesmo agora aparentemente tão tranquilas neste claro momento em que as deixo em desalinho sacudindo o pó dos velhos dias sobre a cama em que te espero [in O que Dói às Aves, Caminho, 2009] Dito por: José Paulo Santos Música: Oliver Shanti - Simply Love (Excerto)

    Devia Morrer-se de Outra Maneira - José Gomes Ferreira

    Devia Morrer-se de Outra Maneira - José Gomes Ferreira
    Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio". E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir a despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. "Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes... (primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos...) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen... como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis... ________ Dito por: José Paulo Santos http://www.facebook.com/jprsantos

    Projecto Interact na Rádio Azeméis FM 89.7 Mhz

    Projecto Interact na Rádio Azeméis FM 89.7 Mhz
    Ouça a reportagem realizada pela Rádio Azeméis FM sobre o Seminário que decorreu na Escola EB 2.3 Bento Carqueja, no dia 19 de Julho 2007. Sítio da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis: http://www.cm-oaz.pt/index.php?lop=artigo&op=d9d4f495e875a2e075a1a4a6e1b9770f&id=a7d8ae4569120b5bec12e7b6e9648b86 Veja aqui a notícia http://www.azfm.com/noticias/detalhes.php?cod=13649

    Três poemas de Mário-Henrique Leiria

    Três poemas de Mário-Henrique Leiria
    ** A Família ** Vamos à pesca disse o pai para os três filhos vamos à pesca do esturjão nada melhor do que pescar para conservar a união familiar a mãe deu-lhe razão e preparou sem mais detença um bom farnel sopa de couves com feijão para ir também à pescaria do esturjão e a mãe e o pai e os três filhos foram à pesca do esturjão todos atentos satisfeitíssimos que bom pescar o esturjão! que bom comer o belo farnel sopa de couves com feijão! e foi então que apanharam um magnífico esturjão que logo quiseram ali fritar mas enganaram-se na fritada e zás fritaram o velho pai apetitoso muito melhor mais saboroso do que o esturjão vamos para casa disse o esturjão. ** Rifão quotidiano ** Uma nêspera estava na cama deitada muito calada a ver o que acontecia chegou a Velha e disse olha uma nêspera e zás comeu-a é o que acontece às nêsperas que ficam deitadas caladas a esperar o que acontece ** Cega-rega das Crianças ** A Velha dormindo o rato roendo a Velha zumbindo o rato correndo a Velha rosnando o rato rapando a Velha acordando o rato calando a Velha em sentido o rato escondido a Velha marchando o rato mirando a Velha dizendo o rato escutando a Velha ordenando o rato fazendo a Velha correndo o rato fugindo a Velha caindo o rato parando a Velha olhando o rato esperando a Velha tremendo o rato avançando a Velha gritando o rato comendo in "Os Novos Contos do Gin-Tonic" ___________________________________ Música: Gaiteiros de Lisboa, com o tema "Macaréu" Voz: José Paulo Santos Edição áudio: Audacity
    Interact podcast
    ptMarch 25, 2007

    Poema à Mãe - Eugénio de Andrade

    Poema à Mãe - Eugénio de Andrade
    No mais fundo de ti Eu sei que te traí, mãe. Tudo porque já não sou O menino adormecido No fundo dos teus olhos. Tudo porque ignoras Que há leitos onde o frio não se demora E noites rumorosas de águas matinais. Por isso, às vezes, as palavras que te digo São duras, mãe, E o nosso amor é infeliz. Tudo porque perdi as rosas brancas Que apertava junto ao coração No retrato da moldura. Se soubesses como ainda amo as rosas, Talvez não enchesses as horas de pesadelos. Mas tu esqueceste muita coisa; Esqueceste que as minhas pernas cresceram, Que todo o meu corpo cresceu, E até o meu coração Ficou enorme, mãe! Olha - queres ouvir-me? - Às vezes ainda sou o menino Que adormeceu nos teus olhos; Ainda aperto contra o coração Rosas tão brancas Como as que tens na moldura; Ainda oiço a tua voz: Era uma vez uma princesa No meio do laranjal... Mas - tu sabes - a noite é enorme, E todo o meu corpo cresceu. Eu saí da moldura, Dei às aves os meus olhos a beber. Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo as rosas. Boa noite. Eu vou com as aves. ______________________ Voz: José Paulo Santos Música de fundo: António Chainho e Teresa Salgueiro - "Sombra e nada mais" Produzido com Audacity Nota: aconselha-se a audição com auscultadores

    Ser Poeta - Florbela Espanca

    Ser Poeta - Florbela Espanca
    Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Áquem e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente! Dito por José Paulo Santos
    Interact podcast
    ptMarch 20, 2007

    Faz o favor... - Mário Cesariny

    Faz o favor... - Mário Cesariny
    Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada! Supor o que dirá Tua boca velada É ouvir-te já. É ouvir-te melhor Do que o dirias. O que és nao vem à flor Das caras e dos dias. Tu és melhor -- muito melhor!-- Do que tu. Não digas nada. Sê Alma do corpo nu Que do espelho se vê. Dito por: José Paulo Santos

    Quando Estou Só Reconheço - Fernando Pessoa

    Quando Estou Só Reconheço - Fernando Pessoa
    Quando estou só reconheço Se por momentos me esqueço Que existo entre outros que são Como eu sós, salvo que estão Alheados desde o começo. E se sinto quanto estou Verdadeiramente só, Sinto-me livre mas triste. Vou livre para onde vou, Mas onde vou nada existe. Creio contudo que a vida Devidamente entendida É toda assim, toda assim. Por isso passo por mim Como por cousa esquecida. Dito por: José Paulo Santos

    Se, depois de eu morrer... - Alberto Caeiro

    Se, depois de eu morrer... - Alberto Caeiro
    Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Não há nada mais simples. Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus. Sou fácil de definir. Vi como um danado. Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma. Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei. Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver. Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras; Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento. Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais. Um dia deu-me o sono como a qualquer criança. Fechei os olhos e dormi. Além disso fui o único poeta da Natureza. Dito por: José Paulo Santos
    Interact podcast
    ptMarch 20, 2007
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